Saturday, April 26, 2008

CHEGANÇA


Néctar escorrendo pelas coisas. Eucaliptos vertendo mel. Mar coberto de acácias amarelas.


Praias ricas de áurea salsugem. É noite e tudo brilha. Foi atingida a iluminação. Tudo pode. Tudo


se vê. É a chegada, em tropel, do amor. Da chama reativada que surge em cavalgada vindo lá das


bandas do horizonte e que vai invadindo as savanas sentimentais. E vai terra a dentro


explodindo numa chuva de flores. Puro sentir. Jorro orgástico de prazer de viver. Um espargir


de amor onde a terra secava. É chegada a hora da colheita.



Otávio Coral

ENVOLVIMENTO


ENVOLVIMENTO

Em suspenso naquela noite de setembro
Pendulo nas cores da madrugada
Vagueio no embalo de acordes de amor
Me amacio por entre as flores oferecidas,
Por sobre os reflexos de doces palavras
Por sob um delgado manto de beleza

Deixo-me fixar naquele instante mágico
Onde os aromas das pétalas daquele corpo
Me impregnaram de toda luz da primavera.

Otávio Coral

A VOZ


Aquela voz. Sim, eu a quero. Preciso dela. Somente a voz.

Sem passado. Sem presente e sem futuro. Sem a forma.

Apenas o som. Puro. Cristalino. Que role como uma esfera

líquida de água límpida da fonte oculta. Que ecoe.

Um som sem distâncias. Sem espaços. Melífluas sensações

soantes. Nunca dissonantes. A voz. Que venha a voz.

Otávio Coral

AUTO DOMÍNIO

AUTO DOMÍNIO

O peso de um medo

se contrapõe à leveza

da perene sede de amar.


Otávio Coral




PROSA POÉTICA


Fluxo da consciência. Deixar-se ir nesta correnteza desconhecida, sendo levado por vozes alheias,
por ruídos insignificantes ou por um momento de silêncio conciso.

Assim surgem as palavras que sobrevivem boiando ao sabor do tempo contemporâneo.

Um hausto inspirador haverá de pescá-las e aí elas passarão a ter um sentido.

E em meio às sensações recém inauguradas toda uma nova dimensão será vislumbrada.


Otávio Coral

FIM DO INÍCIO

FIM DO INÍCIO

Apagam-se os aromas

das melhores sensações

do outono chuvoso.

PROSA POÉTICA


Remanso existencial. Nem fazer nem se desfazer. De nada. De tudo.

Acordar para a vida com preguiça. Esperar. Calmamente.

Como um gato enrodilhado sobre o tapete. Felinamente.

Dormitar. Enganar os pensamentos. Fingir que se pensa. Elucubração morna.

É tudo um imenso e misterioso salto. Para o insondável amanhã. Que não tarda.

A existência é uma espiral infinda. Para seres tristemente findos.
Otávio Coral

Saturday, April 12, 2008

BREVIDADE

BREVIDADE

entre céus
de luas
de flores
de cheiros

um leve sussurrar
de asas


Otávio Coral

DEBUSSY

DEBUSSY

Debussy cria
toca
foge
chega.
no toque mágico do prelúdio
no lírico adágio
no sonhar telúrico da sonata
Debussy toca.

pelos quartetos passam sonhos
o piano finca marcas
cordas ressoam poemas
Debussy cria.

é o impressionista que se mostra
é o simbolista que fala
é o artista que se supera
Debussy chega.

mar harmonia
lua expressão
pastoral mistério
Debussy foge.

É o encontro.
O reencontro.
A eternidade.

Otávio Coral


A PELE


A PELE


Não há como se abstrair do sentido causado por um toque aguardado.

Ansiado. Desejado. Esse tocar pode ser precedido por palavras que agem

como dedos, como parte de uma pele roçando a outra. A voz acaricia junto

com a mão que desliza macia pelo braço, pelo colo, pelo corpo. A emoção do

toque torna-se dupla. É como uma viagem nirvânica , prazerosa, marcada por

arrepios e outras sensações mais fortes. Com esta resposta sensível, outros

toques se sucedem. Outras regiões são descobertas, percorridas pelo desejo

esboçado nos gestos, na fala, no sussurro.

Através de tão profundos estímulos, apesar de estarem na superfície

Suscetível da pele, aumenta a tensão da recepção. O corpo todo se eletriza.

Torna-se preparado para uma vibração extraordinária. De algo que inundará

recônditas fibras da mais louca excitação.

E a dança colada das peles, roçando-se, tocando-se, sentindo-se, desejando-

se mais e mais, vai se exacerbando para um encontro breve com o prazer

através dos contatos físicos e da linguagem.

Uma magnificente manisfestação calorosa dentro de uma relação plenamente

amorosa.


Otávio Coral

POESIA

POESIA

há o musgo
há a pedra
a palavra assenta
a emoção escorre
o sol aquece
a chuva refresca
a sensação arde
os versos pingam
nasce um poema
surge uma canção

Otávio Coral

NOSTALGIA


NOSTALGIA

No ar da tarde
Os badalos dos sinos
Ressoando imensidão
Trazem em seu rastro
Sussurros de sombras
Exiladas na distância
Num espaço tão infindo
Que parecem eternas

Tuesday, April 08, 2008

PENSAMENTOS ARTICULADOS NA PUREZA DA NEBLINA



Num torvelinho de sensações as palavras perdem-se.Ou soltam-se, sei

lá. Elas como se evaporam e deixam um silêncio boiando, sem cor,

sem cheiro, sem estrutura. Que poderia ser a da bolha de sabão, como

no conto da Lygia Fagundes.Seria ótimo diluir-se numa estrutura de

bolha, transparente. Nada passaria despercebido. Cada esgar seria

acompanhado. Cada espasmo, sentido. Cada vômito, analisado.

Depois , talvez, desestruturado, sem máculas, sem rastros, apenas

restos de átomos indiferentes, as palavras pudessem tentar uma

reconstituição virtual. De início apenas, impressões, sem signos,

sem sentido. Alguns ruídos iriam se fazendo. Um certo caos se

instauraria e coisas novas coloridas bailariam. A mente criaria

a meio de uma grande festa, uma ilusão passageira ou uma real

fantasia duradoura. E numa voragem louca de ânsias, de buscas,

de descobertas, as emoções seriam tomadas, guardadas,arquivadas

e usadas quando a ocasião se lhes aprouvesse.

O brilho do renascer do mundo perdido.

Otávio Coral

GÉRBERA

GÉRBERA


Gérbera!

Leve e discreta

Colorida sempre

De matizes variadas

Alegre e feminina

Cheia de suspiros

Em suas pétalas

Clama por um aconchego

De breves e suaves toques

Otávio Coral

A NINFA






17:00

17:00h

no fim da tarde
pelo canto do mar
vem tua voz
pelo fiapo de nuvem
me chega tua pele
pela mornidade do ar
me atinge teu ardor
te recebo plena
nas cores do crepúsculo

Otávio Coral

TEUS


TEUS


Aqueles sorrisos tão alegres

atravessam, leves, os ares,

e se fazem margaridas no meu jardim.

Otávio Coral

TOQUES

TOQUES

Nas profundezas da alma

Fostes com dedos mágicos,

Tocando-a de leve,

Marcando-a fundo,

Deixando cicatriz

Indolor, pintura ilusória,

Que lavrou a presença

Dos indeléveis momentos.

Otávio Coral
ABRAÇO

Dois corpos amantes

Duas almas em delírio

Na dança concomitante

Das formas que se querem,

Unem-se no ávido encontro

Num abraço único, pleno

Que se embute no universo

E absorve todos os sentidos do momento

Saturday, April 05, 2008